terça-feira, 25 de julho de 2017

To (m)eat or not to (m)eat

Fundação Heinrich Böll

Este texto não quer ser radical, nem determinar que comer carne faz mal, muito menos que quem não come carne é bonzinho e quem come é mau porque não tem pena dos animais. Este texto vai lançar algumas questões sobre o consumo de carne, apenas isso.

Passa-me muitas vezes pela cabeça como um quilo de carne, seja de vaca, de porco ou de uma ave, possa custar o preço que habitualmente custa. Porque para chegar ao talho ou à embalagem do supermercado, aquele bocado de carne já pertenceu a um animal que comeu, bebeu e que levou tempo a crescer, e toda esta produção deve custar muito dinheiro. Então se a produção é cara, como pode o produto final ser tão acessível?

As minhas parcas noções de economia dizem-me que para se vender barato o custo de produção deve ser o mais baixo possível.

A Fundação Heinrich Böll publicou um estudo intitulado Atlas da Carne, no qual mostra números e factos sobre a produção de carne no mundo e levanta uma questão paradoxal sobre a qual todos deveríamos pensar – a produção de carne gera fome. Como assim, produzir um alimento gera fome?

Com a desculpa do crescimento da população mundial criou-se a suposta necessidade do aumento da produção de carne. A produção de carne bovina causa um impacto ambiental tremendo, que vai desde a desflorestação, ao consumo excessivo de água ou ao aumento da produção de gases de efeito estufa.  No caso de animais como o porco ou as aves, o impacto ambiental parece ser de menor grau. Mas as condições de vida destes animais são, muitas vezes, deploráveis, já quase todos vimos imagens dos espaços confinados onde vivem. Para além de muitos destes animais serem alimentados com rações cuja origem é também questionável, a manutenção da produção massiva exige a aplicação de medicamentos, como os antibióticos.

Mais do que pensar se determinado alimento faz bem ou mal, talvez seja mais interessante pensarmos na origem desse alimento, como foi produzido, por que fases passou até chegar ao nosso prato, que impactos ecológicos e económicos a sua produção causou. Também poderá ser interessante consumirmos com maior qualidade em detrimento da quantidade.

Termos esta consciência, da origem e produção dos alimentos, poderá melhorar diretamente a nossa saúde e, como poderão ver no estudo da Fundação Heinrich Böll, ir melhorando vários aspetos de maior escala, tornando o mundo mais justo, mais limpo e mais rico.

Acredito que se cada um de nós fizer um bocadinho, todos juntos dá um bocadão!

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Running is for Horses*

edgar-degas.net

Quem me conhece sabe que não acho graça à corrida. Nem pessoal, nem profissional. E também sabe que há anos que digo que correr não faz bem nenhum, principalmente às mulheres, especialmente às mulheres que têm a bacia mais larga, mesmo que magras.

Desenvolvi teorias baseadas na anatomia, no movimento humano, nos programas da BBC ou nas revistas da National Geographic, que mostram aquilo que o Homem andou a fazer ao longo da sua evolução. Teorias que resumiam algum do meu conhecimento com a minha intuição. Sabem quando sabemos algo que não sabemos explicar e nem sequer sabemos como sabemos, mas que sabemos? É confuso, era mais ou menos isso que eu sentia com a corrida.

A minha animosidade com esta atividade ganha tamanho quando vejo pessoas a correrem com os ombros encolhidos, encostados às orelhas, os joelhos instáveis a rodarem para dentro, senhoras com soutiens desapropriados, quando o ar de esforço é demasiado evidente, enfim, uma panóplia de apontamentos que me fazem levar as mãos à cabeça.

Anos depois, já a minha embirração ia longe, a estagiar na Bélgica, o meu mestre estava a tratar um colega nosso que lhe recorria por uma dor qualquer de que não me lembro, dor essa que aparecia precisamente por ser um apaixonado da corrida. Percebi que a discussão sobre correr ou não correr era habitual entre eles e resolvi ficar calada, simplesmente a ouvir e a aprender. Eis que o mestre diz running is for horses!*.

Isto foi música para os meus ouvidos. Se o azimute das minhas ideias já apontava naquela direção, ouvir esta frase de uma pessoa tão sábia, tornou mais consistente a minha convicção.

Como acredito que só não muda de ideias quem não as tem, que só não muda de paradigma quem é casmurro e que a distância entre a casmurrice e a burrice é curta, hoje em dia, vejo a corrida com menos radicalismo.

Não estou a dizer que correr faz bem, nem para calçarem os ténis e soltarem os cavalos. O que quero dizer é que se gosta de correr, se isso lhe dá um imenso prazer, então, corra.

Mas fique atento às suas predisposições posturais, aos músculos que são naturalmente menos flexíveis no seu corpo, à bacia, aos joelhos, aos ombros, ao apoio que os seus pés fazem no chão. Porque todas estas questões posturais se exacerbam quando corre.

Não as tente corrigir quando estiver na sua corrida, nesse momento deverá ter a consciência postural relaxada. Fora das horas dedicadas à corrida tente alongar-se e fortalecer-se profundamente, para poder correr livremente, sem dores nem maleitas daí decorrentes.

E se correr for para cavalos, pelo menos o cavalo é um animal bonito e de qualidades reconhecidas.

terça-feira, 4 de julho de 2017

O Ioga é parado

yogadogz.com

Acho graça quando me dizem que o ioga é parado. Eu gosto é de me mexer rapidamente, de máquinas, música alta, isso do ioga é muito parado para mim, mais os mantras e os chakras, nem pensar! Quando oiço este tipo de comentário, penso, e às vezes até o digo, que talvez precisem mais de uma prática parada do que imaginam.

Bom, ficar três ou cinco respirações numa mesma postura, é de facto, parado, mas não é uma seca!

Só ficando algum tempo numa determinada postura é que podemos ganhar flexibilidade, é que conseguimos fortalecer profundamente a musculatura e tudo isto de forma consciente. Só assim podemos sentir verdadeiramente o nosso corpo e as suas limitações, entender algumas das tensões e dores que sentimos no dia-a-dia e aprender a geri-las.

As coisas feitas devagar são, geralmente, mais difíceis de executar. No ioga usa-se o tempo a nosso favor e afinal, já diz o Caetano, o tempo é um dos deuses mais lindos.